Já pensou o quanto estamos conectados mas ao mesmo tempo solitárias e até despercebidas? Há tanta conexão online e tão pouca conexão nas ruas, concorda?
Estamos estamos na era do avanço tecnológico, em que tudo se pode resolver com apenas um clique, todavia, será mesmo que podemos encomendar atenção, valorização e amor semelhantemente a um lanche que solicitamos por meio de um aplicativo?
Pensando em questões como estas, o Globo Repórter® do dia 21 de setembro de 2018 investigou um sentimento comum à toda a humanidade, a solidão. Assunto que levou o Reino Unido a criar a “Secretaria para enfrentar o isolamento.”
Isolamento entre as pessoas, principalmente as mulheres, virou caso de saúde pública e afeta milhões de britânicas. Este problema não assombra outros países apenas, aqui no Brasil podemos encontrar diversas pessoas que se sentem solitárias, mesmo conectadas a mais de cinco milhões de seguidores, em algumas vezes.
É nas multidões que a solidão se revela ainda mais pesada
As pessoas vivem a observar o que publicamos nas redes sociais, invejando, se comparando ou até mesmo se baseando num estilo de vida ideal, que na maioria das vezes é falso. Diversas mulheres estão “conectadas” mostrando tudo o que fazem como uma forma de gritar ao mundo que “elas existem”, que são descoladas, amadas e felizes.
A falta de contato, reconhecimento e elogios leva muitas mulheres a se sentirem como objetos ou como meras pessoas que possuem valor somente pelas coisas que “fazem” ao invés de “quem são”.
Você já se sentiu assim? Já teve a sensação de parecer ser invisível?
A boa notícia, (se é que é boa) é que o problema não é você em particular. O fato das pessoas não te enxergarem, nada tem a ver com você ou com possíveis defeitos que você possua, mas pela dispersão, polarização e individualismo que a Era tecnológica proporcionou a sociedade.
Todos estão ocupados demais provando aos seus amigos virtuais (que muitas vezes nem os conhece) o quanto são bons.
O suficiente para serem amados, importantes e ouvidos, deixando escapar as relações presenciais.
Olhe ao seu redor, ninguém vê mais ninguém.
Para ser vistas, nós mulheres, muitas das vezes, precisamos ter um currículo social que prove o quão inteligente e interessantes somos, pela posição politica que apoiamos, pelo corpo sarado que mantemos, pelos bens que possuimos ou pelo número de viagens que publicamos.
Fora o contexto tecnológico, existe ainda, o conceito do individualismo. No egoísmo social interessa apenas aquilo que é bom “para mim”, o outro não é problema meu. Pensamentos como este fazem com que as pessoas não percebam as outras ou simplesmente não se importem com elam. Cada um busca sua própria posição no ranking da felicidade, seu próprio interesse e realização, ignorando completamente as pessoas a seu redor.
A solidão aumenta quando, do mesmo modo que você não se sente valorizada, percebida ou reconhecida, você também não enxerga, reconhece ou considera as outras pessoas ao seu redor. Infelizmente compramos todos os dias o “discurso” de que “somos nós que precisamos ser feliz social”, de que: “somos nós que devemos ter aquela promoção no serviço”, o reconhecimento por um feito ou a felicidade tão sonhada – nós merecemos e o outro pode esperar.
Inclusive temos uma variedade de cursos presenciais, seminários e treinamentos com os títulos: “Você em primeiro lugar”; “Pense em você apenas”; “Você é a pessoa mais importante”, entre outras ideologias.
Entretanto, como pessoas completamente extremistas, levamos adiante essa linguagem individualista e colaboramos para relações sem laços afetivos e sociais. Ignoramos o fato de que os vínculos afetivos são “quem” nos forma seres humanos sujeitos comunicativos e que necessitamos do reconhecimento do “outro” como indivíduos.
As mulheres, consideradas como um ser mais sensível, sofrem mais com a falta de percepção do “outro”. Justamente daí que surgem grupos feministas que levantam as bandeiras em busca de um lugar mais favorável de reconhecimento, gritando ao mundo: “nós também somos importantes”!
Por mais que nós mulheres estejamos conectadas quase 24 horas por dia nas redes sociais, tenhamos milhões de seguidores e somos taxadas de “tagarelas”, ainda assim, somos pessoas que não encontraram um público que nos escutem com real interesse. Poucas pessoas estão interessadas em nos ouvir dentro do laço social. Isso explica o porque a solidão nos afeta tanto.
As mulheres não são ouvidas, não somente em suas opiniões políticas, morais ou culturais, mas principalmente, nas questões emocionais. Quem de fato deseja ouvir aquilo que temos a dizer?
Sentir-se sozinha nasce pela falta do olhar específico”do outra para nós como sujeitos que sentem, pensam e que tem algo a dizer para o mundo.
O relacionamento é fonte de aprendizados, de evolução emocional, social e psíquica. Precisamos deste contato, para nos relacionarmos melhor e termos sentimentos saudáveis.
Segundo Satish Kumar: Ao me separar do outro eu não consigo reconhecer a mim mesmo. Eu só sou porque você é.
A vista disso, a sensação de sentir-se sozinha pode desaparecer simplesmente com o fato de alguém nos ouvir e prestar atenção em nós. Entretanto, para que isso comece a acontecer somos nós que devemos dar o primeiro passo. Desconecte-se e encontre uma vida mais plena.
No livro “Capitães de Areia” do autor Amado Batista, conta-se a história de Barandão, um molecote que encontrava-se as escondidas com outra pessoa no cais a noite, enquanto todos dormiam, para receber um pouco de afeto, atenção e amor. O trecho diz: Todos procuravam um carinho, qualquer coisa fora daquela vida: O professor naqueles livros que lia a noite toda, o Gato na cama de uma mulher da vida que lhe dava dinheiro, Pirulito na oração que o transfigurava, e Almiro no amor na areia do cais.
No fim, temos um único intuito ser pessoas reconhecidas como indivíduos. Logo, a solidão surge quando isso não ocorre.
Por Elizandra