“Aprendi com a minha mãe, quando eu era adolescente, que se eu me sentisse a ameaçada por um homem na rua, correndo risco de abuso sexual, deveria buscar uma mulher adulta e caminhar ao lado dela, para pedir ajuda. Essa foi minha primeira lição de sororidade: busque sempre uma mulher para te proteger.”
A cena acima descreve a primeira vez que a psicóloga Letícia Gomes Gonçalves entrou em contato com a noção de sororidade, através de uma orientação dada por sua mãe. E este é um dos princípios da sororidade: criar uma relação de união, afeto e cuidado entre as mulheres.
O que é sororidade?
Segundo Letícia, a sororidade é um dos pilares do feminismo, especialmente nos dias atuais. Significa irmandade e cumplicidade entre mulheres – em que uma mulher ajuda a outra, livre de julgamentos. “Só uma mulher é capaz de compreender as dificuldades e dores que ser mulher implica em nossa sociedade”, acrescenta.
O propósito da sororidade é gerar empatia por outras mulheres e buscar a união entre si, a fim de alcançar objetivos em comum, como direitos e igualdade em diversas esferas sociais. A psicóloga ainda complementa que essa relação ajuda as mulheres a “terem mais força para mudar toda uma sociedade machista e patriarcal”.
Como praticar sororidade
Ao adotar a sororidade no dia a dia, você e outras mulheres se beneficiam. Letícia Gonçalves ressalta que há diversas vantagens nessa relação, como diminuição da solidão, da carga mental e proteção da saúde mental uma das outras. “Em situações de risco, podemos até salvar a vida de outra mulher”, lembra.
Para isso, a psicóloga dá algumas dicas simples de como praticar a sororidade no cotidiano. Confira:
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- Não julgue outras mulheres
- Ajude, acolha e proteja mulheres
- Não incentive a rivalidade entre as mulheres
- Compre e ofereça serviços para mulheres
- Elogie, valorize e empodere outras mulheres.
Empoderamento feminino e sororidade
Pode não ser muito claro para muita gente, mas os conceitos de sororidade e empoderamento feminino andam juntos. Enquanto a sororidade parte da empatia entre as mulheres, o empoderamento está relacionado à tomada de poder.
Segundo Letícia, o empoderamento feminino implica em “reconhecer que se é capaz e que pode tomar as rédeas da própria vida”. “É uma consciência coletiva que mulheres têm poder e merecem ser tratadas com equidade em relação aos homens”, diz.
Em 2010, a ONU Mulheres estabeleceu os “Princípios do Empoderamento Feminino” para serem aplicados no setor privado e causar maior paridade entre mulheres e homens no local de trabalho, mercado e carreira. Entre os termos, estão:
- Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível
- Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação
- Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa
- Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres
- Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento feminino através das cadeias de suprimentos e marketing
- Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social
- Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
Por que o empoderamento feminino TAMBÉM é importante?
Apesar dos avanços sociais e da independência financeira que as mulheres conquistaram ao longo das últimas décadas, ainda há muitas questões a melhorar quando falamos de paridade de gêneros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) elencou alguns motivos para ilustrar por que o empoderamento feminino é necessário:
- 70% das pessoas que vivem em situação de pobreza no mundo são mulheres
- Pelo menos 10 mulheres são assassinadas diariamente no Brasil
- Uma em cada três mulheres sofre algum tipo de violência ao longo de sua vida
- Calcula-se que 100 milhões de meninas se casarão antes dos 18 anos e 14 milhões de adolescentes serão mães
- No mundo, morrem mais mulheres entre 15 e 44 anos vítimas de violência machista do que de câncer ou acidente de tráfico
- Somente em países como Noruega, Suécia e Finlândia as mulheres alcançam taxas de participação superiores a 40% nos ministérios
- 49% dos infectados no mundo por HIV são mulheres
- 80% do trabalho não remunerado (cuidados do lar, voluntariado, etc) são as mulheres que realizam
- 93% das vítimas de violência doméstica são as mulheres
- Meio milhão de mulheres morre a cada ano por causa de gravidez no mundo.
Os dados evidenciam como ainda há muita desigualdade entre os gêneros no mundo e por que é importante que organizações internacionais, governos e iniciativas privadas intervenham.
Entretanto, não são apenas as instituições que podem agir para mudar esta situação de disparidade. Todos podemos praticar pequenos atos no dia a dia para promover respeito, empatia e empoderamento.