Aconselhamento via internet alia praticidade e bons resultados nos negócios
O trunfo da prática está na possibilidade de aprender com os erros sem precisar cometê-los, já que os ensinamentos vêm de vozes experientes. “O ideal é buscar quem já está várias etapas à sua frente em um mesmo segmento”, sugere Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora.
E, para facilitar, novos formatos vêm conquistando quem não tem tempo ou optou por trabalhar em casa. São as sessões de mentoria online, feitas via Skype ou plataformas de conexão coletiva específicas para isso. Claro que, para quem gosta, os encontros presenciais seguem firmes. Há ainda a possibilidade de combinar os dois meios.
S.o.s. digital
A praticidade da mentoria online facilita a vida de quem está sem orçamento para cursos de formação, não pode se ausentar do lar por muito tempo ou cumpre o turno do emprego formal enquanto o negócio próprio ainda engatinha. A internet chega para encurtar o caminho e tornar o processo mais rico, parte disso em razão da possibilidade de ser mentorado coletivamente.
É possível seguir em conversas individuais, mas dividir dilemas e trivialidades com outras empreendedoras na mesma situação é o ouro dos grupos que se multiplicam nas redes.
“A comunidade formada permite antecipar questões que nem sequer passaram pela mente de algumas e desenvolver soluções”, explica a empresária e mentora Tatiana Borsoi, de Cabo Frio (RJ), que mantém o grupo Empreendedoras Online, no Facebook, para discussões e trocas de experiência. Ela explica que, de modo geral, o mentor se reúne em sessões semanais com os participantes. O processo completo pode durar de dois meses a um ano.
Foi em uma dessas conversas que a dona de uma loja franqueada de produtos da área da saúde em São Paulo, Aline Miessa, 37 anos, encontrou as ferramentas para mudar-se de cidade com os dois filhos, de 12 anos e de 5 meses. Ela desejava trocar a capital paulista por Santos, no litoral, no início deste ano.
Acostumada a acumular funções e a tomar conta de tudo, o temor era de que o comércio desandasse sem a sua presença diária. O plano era visitar o empreendimento esporadicamente e, para isso, buscou aprender como dividir tarefas, estabelecer metas e acompanhar o cumprimento de suas diretrizes mesmo quando estivesse distante. “Não sabia como delegar, mas aprendi a fazer isso sem a desconfiança de que poderia dar errado, caso não fosse eu a desempenhar a função”, conta.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas empresárias, frequentemente sobrecarregadas com trabalhos domésticos, cuidados com os filhos e os negócios, é justamente a capacidade de dividir funções – o que as leva aos processos de mentoria.
“Por vezes, empreender é uma corrida solitária. Entender que é permitido pedir ajuda é importante”, explica Adelaide Giacomazzi, mentora de empreendedorismo, de Curitiba.
A habilidade é fundamental para sustentar a perenidade de qualquer empresa, mas ainda mais importante para o grupo específico das mães – sabe-se, de acordo com levantamento da Rede Mulher Empreendedora, que 75% delas só iniciaram no ramo após ter filhos.
Ponto de foco
Pensando nas particularidades dessa fatia surgiu o Grupo M.Ã.E, startup de Piracicaba (SP), que atende esse público em uma plataforma online. Para participar, a assinatura mensal custa 25 reais e é possível seguir diferentes trilhas de negócios, que incluem desenvolvimento de produto, impulsionamento de vendas e marketing.
O ritmo é definido pela própria mentorada para caber na rotina que soma outras responsabilidades ao cronograma de trabalho. “Como as mães empreendedoras se dividem em muitas funções, que vão além da carreira, ela precisa ter acesso a conteúdos descomplicados e práticos que possam ser aplicados rapidamente”, explica Lia Castro, sócia-fundadora da startup.
Esses foram alguns dos motivos que levaram Carol Braga, 38 anos, de Campinas (SP), ao site. Foi lá que encontrou estratégias para estruturar uma empresa com base em um projeto que começou nas redes sociais. A ideia era transformar o perfil Quintal da Leitura no Instagram, no qual compartilhava técnicas de leitura para a infância, em cursos e oficinas presenciais.
“A princípio, eu tinha como sonho empreender na área de educação, mas não sabia exatamente com qual enfoque: se daria oficinas de leitura para crianças ou se montaria uma livraria”, conta. Depois da mentoria online, há cerca de um ano, resolveu que continuaria com os cursos e atenderia pais e professoras. Decidiu também deixar a sala de aula, que sempre havia sido seu local de trabalho, para se dedicar totalmente à nova empresa.
No seu negócio, um dos principais ganhos do aprendizado foi definir um público-alvo e desenvolver o produto em torno disso. Esgotado o trajeto delineado durante a primeira mentoria, ela já mirou na segunda – desta vez para trabalhar a comunicação digital e tornar claro o objetivo do projeto. “Frequentemente somos confundidas com um clube de curadoria de livros”, justifica. Agora, quer criar estratégias de marketing digital para acabar com a incerteza dos consumidores.
Carol já passou mais de 12 meses em processo de troca. A dedicação é importante e se equipara à atenção dada aos cursos presenciais e de formação. Ainda que feito à distância e com certa flexibilidade, o papo é sério e as horas são preciosas, até porque o processo não chega ao fim quando se desliga a câmera do computador.
“Ele deve fazer parte do período de trabalho para que a pessoa possa se aprimorar sem comprometer o tempo livre, que também é essencial”, recomenda Bianca Giudici, fundadora da consultoria Machinarium, que oferece mentoria online para desenvolver o setor de comunicação e performance em frente às câmeras. Especialmente para quem está desenvolvendo negócios digitais, a separação entre o lado profissional e o ócio pode ser difícil.
Quando buscar um guru?
Além de aprendizado para quem já identificou as problemáticas do novo empreendimento, a mentoria é interessante para quem não sabe por onde começar. A fisioterapeuta Luciana Barbosa, 44 anos, se sentia perdida. Ela havia sido demitida do hospital em que trabalhava após mais de uma década de serviço.
Com dois filhos, hoje com 11 e 6 anos, aproveitou a virada inesperada para transformar seu hobby, a fotografia, em profissão, especializando-se em retratos infantis. “Como a minha carreira já estava construída na área da saúde, bateu uma insegurança ao me recolocar no mercado”, lembra Luciana.
Sem nenhum conhecimento de empreendedorismo, ouviu falar nas sessões virtuais e decidiu arriscar para tentar reencontrar o caminho. A primeira tutora que teve foi informal, uma fotógrafa que já trabalhava na área e que avaliou seus cliques. Depois, focou no básico para aprender como apresentar seu produto a potenciais consumidores, ganhar visibilidade e precificar seus serviços.
“Diria que essa troca é indispensável para quem está começando. Também não impede que, mais adiante, se invista em uma especialização na área de negócios”, diz Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora.
Esse é um dos objetivos de Luciana, que, até agora, já comprovou o efeito potente da escuta ativa e classifica como transformadora a experiência. Prova de que a tecnologia, além de encurtar distâncias no mapa, é um atalho para alcançar as mais ambiciosas metas profissionais.
Caminho das pedras
Encontrar a mentoria que combina com você é mais fácil do que parece. Reunimos os passos fundamentais. Confira:
- As perguntas certas
Qual é a maior fragilidade do seu negócio? E sua grande dificuldade como gestora? As questões que atrapalham o dia a dia da empresa são bons guias para definir qual será o tema das sua sessões virtuais. “A mentoria deve servir para ajudar a prever as próximas etapas do negócio, não pular degraus”, ensina Lia Castro, da M.Ã.E.
- O tutor ideal
Uma vez definido o foco da mentoria, é hora de buscar quem vai assessorar o processo. Procure pessoas que trabalham no mesmo ramo que você, mas que estejam alguns passos à frente. Dá para buscá-las em eventos presenciais na área de empreendedorismo, como os promovidos pelo Sebrae, ou de forma remota, por meio de plataformas virtuais ou grupos em redes sociais especializados no assunto.
Não tenha vergonha de abordar profissionais que lhe pareçam interessantes. Capriche na mensagem explicando quem é, qual seu objetivo, destacando por que procura o serviço e como eles podem ajudá-la.
- Preciso pagar?
Via de regra, sim. Programas completos já estabelecidos ou plataformas especializadas cobram pelo acesso – em esquema de pacote ou assinatura, com valores variados. Em caso de mentorias informais, vale conversar diretamente com o conselheiro para entender como é a conduta dele nesse sentido.