O que Marie Curie, Madre Teresa e Malala tem em comum? Todas nasceram mulheres e estão entre as 6,1% premiadas com o Nobel desde 1901. Se pensarmos que desde então foram 931 os laureados, a necessidade de refletirmos sobre a representatividade feminina em espaços de produção de conhecimento entra na lista das tarefas imprescindíveis para quem quer empreender em nosso país – e no mundo!
Mesmo comemorando um número maior de mulheres a receberem o prêmio Nobel em 2020: Emmanuelle Charpentier, Jennifer Doudna e Andrea Ghez – os chefes dos comitês eram todos homens… Quando olhamos de perto para os grupos de trabalho, mesmo em categorias ainda ditas femininas, como a literatura, nossa representatividade era baixa: duas mulheres para cada cinco homens! A pergunta que parece não querer calar é como isso impacta nossas vidas, reles mortais, cujo nobel é o de sobreviver em um mundo cujos espaços reservados para a mulher ainda são, em grande maioria, de subalternidade!? E qual a alternativa que podemos pensar para essa realidade?
Talvez o primeiro passo para respondermos às perguntas acima seja enxergar os fatos através das lentes da artista Rosana Paulino. Ela nos coloca cara a cara com a realidade nua e crua que precisamos, juntas, enfrentar e desmantelar: usando fotografias, linhas e bastidores de bordado, a artista conduz nosso olhar para a violência e o silenciamento imposto às mulheres. A imagem que escolhi para a coluna de hoje faz alusão ao que fica escondido nos “bastidores da sociedade” : a reprodução desses silenciamentos ao longo da vida de muitas meninas em suas trajetórias por virarem mulheres.
A subalternidade expressa nessa desigual presença em espaços sociais reflete o que ocorre na vida das mulheres desde quando ainda são meninas, em suas vidas privadas: “mulheres fazem 75% do trabalho de cuidado não remunerado do mundo” afirma Katia Maia, diretora da OXFAM Brasil, lembrando as “milhões de mulheres e meninas que passam boa parte de suas vidas fazendo trabalho doméstico e de cuidado, sem remuneração e sem acesso a serviços públicos que possam ajudá-las nessas tarefas tão importantes”. Quantas dessas mulheres, ainda meninas, como era Malala, são talentos desperdiçados por não poderem vislumbrar as possibilidades diariamente oferecidas ao sexo masculino?
Em 1975, na Conferência das Mulheres convocada pelas Nações Unidas, Pam Simmons escreveu um artigo intitulado: “Mulheres no desenvolvimento, uma ameaça à liberação”, onde denunciava o fato de mulheres terem sido recorrentemente ignoradas em políticas voltadas para o desenvolvimento. Pouco parece ter mudado desde então…
Foi pensando na direção de ser todo desafio uma oportunidade disfarçada que em 2018 nasceu o MulherAção, um núcleo de trabalho de mulheres em ação, gerando oportunidades para que outras mulheres, a partir de suas necessidades, desejos e ideias, também realizassem suas ações. Mas isso é assunto para minha próxima coluna aqui na SBEF: como o poder do esforço coletivo no terceiro setor gera oportunidades que contribuem com o avanço e benefício de todas nós?
Crédito da imagem: série Bastidores (1997)
https://mam.org.br/acervo/1997-076-000-paulino-rosana/Número de tombo: 1997.076-000
Vanessa Meirelles
Co-fundadora da FabricAções, idealizadora do MulherAção, um núcleo de trabalho de mulheres em ação, gerando oportunidades para que outras mulheres, a partir de suas necessidades, desejos e ideias, também realizem suas ações.