Aline Azar, CEO e co-fundadora da Lumma, dá uma aula de empreendedorismo feminino. Confira a história da Lumma e entenda as dificuldades enfrentadas por mulheres empreendedoras, além de ganhar dicas de como entrar no mundo dos negócios vendendo produtos femininos.

Muitos anos antes de fundar a Lumma, Aline Azar foi à farmácia comprar absorventes. O atendente do caixa, claramente desconfortável com o produto que Aline estava adquirindo, sugeriu: “Moça, deixa eu colocar mais uma sacola para ninguém ver o que é.”

Essa experiência, apesar de não ter sido a única do tipo, marcou Aline. Desde bem nova, ela percebeu como menstruar era tratado pela sociedade como algo vergonhoso, até mesmo nojento.

Aline já tinha alguns anos de experiência com varejo nas costas, abrindo inclusive uma empresa para vender cosméticos. Essa bagagem, aliada ao interesse por produtos femininos, levaram a empresária a construir sua marca do zero, e foi assim que nasceu a Lumma, uma empresa especializada em discos e copos menstruais.

Neste artigo, batemos um papo com Aline sobre o desenvolvimento de produtos para mulheres. Além disso, Aline fala sobre a importância do empreendedorismo feminino e dá dicas para outras empreendedoras brasileiras que querem tocar o próprio negócio.


Primeiro de tudo: o que é empreendedorismo feminino?

O empreendedorismo feminino engloba iniciativas empreendedoras idealizadas ou lideradas por mulheres. Desde mulheres que atuam como autônomas até empresas de grande porte, qualquer negócio pode se enquadrar no empreendedorismo feminino, contanto que tenha ao menos uma mulher como proprietária, sócia ou em qualquer cargo de autoridade.

Veja o caso da Lumma: a família de Aline já atuava no mercado de produtos de amamentação e tinha o know-how de manipulação de silicone. Quando Aline teve a ideia de criar produtos menstruais, seu pai — que tem experiência em engenharia e que Aline considera como melhor amigo — a ajudou a desenvolver o produto. “A gente acabou se unindo porque ele era da parte de produção e eu da parte comercial, de marketing.”

Foto do artigo sobre empreendedorismo feminino mostra a fundadora da marca Lumma, Aline Azar, diante de um fundo rosa, segurando um disco menstrual colorido. Aline é uma mulher de cabelos escuros e liso e veste uma blusa branca de manga comprida.Aline Azar, CEO e co-fundadora da Lumma. Foto: Arquivo Lumma.

Existem ​​muitos estereótipos sobre o empreendedor: a imagem de um homem jovem branco, que cria uma empresa na garagem dos pais, vem à cabeça de muita gente. O problema é que esse estereótipo acaba desencorajando muitas pessoas, principalmente mulheres de classes socioeconômicas menos privilegiadas, a perseguir o sonho do empreendedorismo.

Mas não seguir o mesmo caminho que outras pessoas não impede ninguém de se tornar um empreendedor. Por isso, ouvir histórias de outras empreendedoras brasileiras é tão importante nessa luta pelo empreendedorismo feminino.

Qual a importância do empreendedorismo feminino?

Tá, mas por que o empreendedorismo feminino é tão importante? Por que queremos incentivar cada vez mais mulheres a abrir um negócio? Reunimos aqui uma série de razões para nós, como sociedade, oferecermos mais espaço e investimentos a mulheres empreendedoras.

Uma questão de oportunidade

Foto do empreendedorismo feminino mostra duas mulheres sentadas no chão, uma de costas para a outra, ambas segurando um disco menstrual. As duas mulheres estão sorrindo. No fundo, há dois círculos em alusão à Lua.

O sonho de empreender ainda é distante para muitas mulheres pelo simples fato de que elas têm acesso mais restrito a cargos de liderança que oferecem melhores salários. O empreendedorismo feminino e a abertura de mais negócios liderados por mulheres ajudam a reduzir essa discrepância nas oportunidades oferecidas.

De acordo com os dados apresentados no Índice de Igualdade de Gênero (GEI) de 2020, empresas que têm uma mulher como CEO apresentaram mais mulheres em cargos de gerência do que empresas lideradas por homens. Além disso, em negócios comandados por uma CEO, as mulheres têm presença maior entre 10% dos funcionários mais bem pagos e nos cargos que geram lucros para a empresa.

A Lumma se orgulha de relatar que 80% da equipe é composta por mulheres. E a empresa não precisou desenvolver nenhum tipo ação afirmativa para que isso acontecesse. “Selecionamos as melhores pessoas para cada cargo, sem discriminação de gênero, e são todas mulheres que entregam para além dos resultados”, explica Aline.

Um ambiente de trabalho mais livre

Foto de artigo sobre empreendedorismo feminino mostra uma mulher ao centro, com uma mão cobrindo a boca em uma expressão de choque. Ao redor da mulher, há quatro mãos diferentes, cada uma delas segurando um copo menstrual.

As empresas que são majoritariamente masculinas costumam deixar mulheres mais desconfortáveis para defender opiniões e se expressar. A trajetória da Aline como mulher empreendedora é prova disso.

[Em ambientes predominados por homens,] as pessoas sempre acham que você não está trabalhando, que você não está levando seu trabalho a sério, que você não quer fazer uma mudança no mundo.

Aline Azar, CEO da Lumma

Aline relata que ter mais mulheres na equipe cria um ambiente no qual as funcionárias se sentem mais à vontade para demonstrar seu potencial. “Eu vejo que as mulheres têm mais autonomia, mais flexibilidade e liberdade para se posicionar.”

Além disso, mulheres empreendedoras, no geral, implementam ações que fomentam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e incentivam o autocuidado. Em uma pesquisa feita nos EUA, 64% das mulheres entrevistadas afirmaram oferecer benefícios familiares, apesar de serem custos altos para pequenos negócios.

Sensibilidade para trazer soluções para mulheres

Foto do empreendedorismo feminino mostra um disco menstrual da Lumma ao centro, sobre uma mesa, cercado por dezenas de absorventes internos tradicionais.

O empreendedorismo feminino tem um ponto de vantagem que hoje parece óbvio, mas que, por muitos anos, não foi nem cogitado: quem melhor para criar produtos perfeitos para mulheres do que… mulheres?

Mais do que vender discos e copos menstruais, a Lumma quer incentivar as mulheres a aceitar o próprio corpo e ter mais autonomia no dia a dia, escolhendo o produto menstrual que mais atende às necessidades das clientes e do corpo delas.

Aline cita o exemplo do disco menstrual, que permite às pessoas que menstruam ter relações sexuais durante o período menstrual. A CEO acredita que, se a pessoa quer se relacionar sexualmente mesmo estando menstruada, ela deve ter o poder de decidir.

A gente jamais faria as pessoas entenderem a importância do produto se não tivesse uma equipe liderada por mulheres.

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Conscientização e empoderamento feminino

Alguns anos atrás, durante uma apresentação em sala de aula para os colegas de mestrado, Aline falou sobre sua ideia de produto: os discos menstruais. Apesar de 75% da turma ser composta por homens, muitos deles mais velhos, ela não se intimidou.

De início, os alunos ficaram confusos com a necessidade de um produto voltado para menstruação. Contudo, Aline acredita piamente no poder da informação e explicou tudo tintim por tintim. “Tive que desenhar um útero e um canal vaginal no quadro, mas todos eles ficaram apaixonados pelo projeto”, brinca Aline.

Foto de artigo sobre mulheres empreendedoras mostra uma mulher sentada em uma cadeira de praia, segurando um disco menstrual com a mão esquerda. Com a mão direita estendida, ela recusa uma taça com um líquido vermelho e um absorvente interno dentro.

A postura de Aline transparece também na linguagem que a Lumma usa para se comunicar com o público-alvo. Enquanto outras empresas do mercado usam uma linguagem mais séria e técnica para promover produtos, a Lumma opta por uma forma mais direta e clara de explicar os benefícios de tudo o que a marca oferece.

“Eu não estou trabalhando só para os ricos, só para quem tem um nível de escolaridade maior. Eu quero que todo mundo tenha acesso ao meu produto. E como vou explicar meu produto usando termos como ‘endométrio’ e ‘osso púbico’?”, aponta a CEO da Lumma.

Essa abordagem mais direta é parte fundamental das estratégias de marketing da Lumma. Aline diz que sempre foi uma pessoa de quebrar tabus. Por isso, ela se recusa a romantizar a menstruação, usando eufemismos como se menstruar fosse algo de que as pessoas deveriam ter vergonha.

A determinação da Lumma de transmitir conhecimento e desmistificar a menstruação realça outro benefício do empreendedorismo feminino, que é a conscientização e o empoderamento de mulheres.

Conhecimento é liberdade; quanto mais você sabe, mais você entende a situação. Empoderar é explicar para dar liberdade de escolher.

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Os obstáculos enfrentados por mulheres empreendedoras

Foto sobre mulheres empreendedoras mostra uma mulher, vestindo um macacão jeans, com a mão direita ajeitando o cabelo. No fundo rosa, há uma imagem que mostra as fases da lua.

Abrir um e-commerce já é desafiador por si só, mas infelizmente o empreendedorismo feminino enfrenta uma série de dificuldades adicionais, causadas em sua maioria por uma noção há muito cristalizada: a ideia de que lugar de mulher não é no mercado de trabalho, muito menos à frente do próprio negócio.

Listamos a seguir os principais obstáculos que as mulheres empreendedoras enfrentam no mundo dos negócios.

Aprendemos a não confiar em mulheres empreendedoras

Mesmo em pleno 2022, os investimentos em novos negócios ainda são majoritariamente ditados por homens, que têm receio de apostar no empreendedorismo feminino. O resultado disso? Mulheres passam por um crivo muito mais minucioso do que homens para vender suas ideias e investir no próprio negócio, por conta de uma concepção mal-informada de que investir em mulheres é um risco.

Até mesmo quando tentam desenvolver um negócio de impacto social, as mulheres têm bem menos acesso a investimentos: entre os negócios criados por empreendedoras brasileiras, somente 25% tiveram sucesso em obter investimentos, enquanto 55% dos negócios fundados por homens foram bem-sucedidos nesse quesito.

Por ser uma mulher de 31 anos, Aline já teve que lidar com muitas tentativas de intimidação e descrédito de suas ideias. A fundadora da Lumma teve reunir toda sua autoconfiança e resiliência para enfrentar esses obstáculos e ainda encoraja outras mulheres empreendedoras a fazer o mesmo.

“Sabe em quantas reuniões com CEOs de multinacionais, a maioria homens mais velhos, eu tive que falar de sexo e menstruação? Eu levantei minha empresa do zero para o mundo inteiro em um ano e meio. Nunca me deixei abater por ser mulher”, afirma Aline.

Foto sobre empreendedorismo feminino mostra diversos copos e discos menstruais sobre um cobertor. Há também embalagens dos produtos menstruais com o logo da Lumma.

As mulheres são ensinadas a evitar riscos

Outro fator que prejudica o aumento de investimentos no empreendedorismo feminino é que muitas delas sequer buscam algum tipo de investimento.

Aline contou com a ajuda da família, que já trabalhava com produtos de silicone, para tirar sua ideia de negócio do papel e fundar a Lumma. Porém, nem todas as empreendedoras brasileiras têm esse tipo de amparo e, com isso, sentem-se intimidadas de ir atrás de investimentos.

Ao longo dos séculos, construímos expectativas sociais que exigem uma postura contida das mulheres, enquanto os homens ganham louros por serem corajosos. Somos ensinadas a ter mais cautela e a nos arriscarmos menos. Em termos de finanças, essa aversão a riscos contribuiu para que mulheres se tornassem mais propensas a correr atrás de investimentos mais modestos, ou a nem buscarem investimento nenhum.

De acordo com a consultora financeira Isabela Fontanella, uma grande parte das mulheres abre micronegócios — empreendimentos que são vistos como menos arriscados, mas que não encontram tantas linhas de crédito no mercado.

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Temos que lidar com muitos negócios liderados por homens

Foto de artigo sobre mulheres empreendedoras mostra uma mulher de camiseta rosa, segurando um disco menstrual transparente em cada mão.

Tem mais um desafio do empreendedorismo feminino que às vezes nem passa pela nossa cabeça: a mulher empreendedora que quer trabalhar com vendas online precisa lidar com outras empresas que, muitas vezes, não têm nenhuma mulher no quadro diretor.

Certa vez, Aline marcou uma reunião com a equipe de uma empresa parceira que prestaria serviços para a Lumma. Ao chegar na reunião, ela ficou incomodada que, das nove pessoas presentes, só ela era mulher.

“A gente precisa de outras empresas para operar, e muitas delas são lideradas por homens. Mas eu não posso vender um produto menstrual com uma equipe liderada por homens que não menstruam, que não entendem a necessidade do meu público”, explica Aline.

Lumma é sucesso no mundo todo com a Shopify

Foto de empreendedorismo feminino mostra a mão de duas mulheres diferentes, segurando o mesmo disco menstrual transparente diante de um fundo de cor salmão.

Mas não é só de dificuldades que vive o empreendedorismo feminino, e a Lumma está de prova. Os planos da Lumma de expandir para o exterior começaram a tomar forma no final de 2019 e, depois de seis meses de planejamento, em fevereiro de 2020, a empresa começou a vender em Miami. O resultado? A Lumma estourou por completo.

Logo nos primeiros meses, a Lumma cresceu mais de 10.000% e viu seu faturamento sair de zero para vários dígitos — isso só nos EUA. Desde então, a operação foi expandida para Europa, Reino Unido e Austrália, e Aline agradece à Shopify por ter possibilitado esse crescimento mesmo com uma equipe enxuta.

“A gente não consegue largar a Shopify porque [a plataforma] ajudou a alavancar isso. Foi muito fácil integrar a nossa operação”, elogia Aline.

Uma vantagem da Shopify é poder vender em marketplace, que permitiu à Lumma fazer integração com a Amazon e levar seus produtos para um público ainda maior.

Dentre os recursos que a Shopify oferece, Aline destaca também o Shopify Markets.

Um conselho para empreendedoras brasileiras

Foto de empreendedorismo feminino mostra três mulheres, uma ao lado da outra, cada uma delas segurando um disco menstrual colorido.

Sabe qual é a principal dica que a Aline tem para as mulheres empreendedoras? “Não pensa duas vezes, só vai!”

Aline brinca, mas explica: “Quem manda é você. Nunca deixe ninguém te falar ‘não’.” E a CEO da Lumma recomenda o mercado feminino sem nem piscar os olhos. “É o melhor e mais interessante mercado que tem. Tem diversas coisas que eu descubro diariamente que me fazem ficar cada vez mais apaixonada pelo meu trabalho.”

Aline também aponta que, mesmo se você tiver medo do empreendedorismo, é importante passar uma imagem de autoconfiança. Você, como mulher empreendedora, é capaz de correr atrás dos seus objetivos e ter sucesso. “Veja o exemplo da Lumma: tem tantas mulheres na minha empresa porque elas realmente eram as melhores para o cargo”, explica Aline.

O nosso lugar é muito melhor e mais alto do que a gente imagina.

Deixar as decisões sobre produtos femininos na mão de homens, segundo Aline, é se deixar para trás. “Muitos homens vão achar que sabem mais que você, mas eles acabam com um produto que não vende, que não dá dinheiro”, reforça Aline.

Por isso, a gente encoraja as empreendedoras brasileiras que leem este artigo a tirar a poeira daquele plano de negócios que está na gaveta há anos. Não desista da sua ideia, pois ela pode ajudar muitas outras pessoas, de formas que você nem imagina. E quem sabe um dia você também não aparece aqui no blog, dando dicas para outras mulheres empreendedoras? 😉

Empreendedorismo feminino: resumo

O empreendedorismo feminino corresponde a iniciativas de negócios idealizadas ou lideradas por mulheres empreendedoras.

A importância do empreendedorismo feminino está no fato de que negócios liderados por mulheres criam mais oportunidades para mulheres no mercado de trabalho. Além disso, nutre um ambiente de trabalho mais prolífico para mulheres, pensa em produtos que atendem às necessidades do público feminino e ainda empodera e conscientiza mulheres.

Dentre as dificuldades enfrentadas por mulheres empreendedoras, estão a falta de incentivos, a descrença no potencial do empreendedorismo feminino e o empecilho de lidar com diversas empresas que não contam com mulheres na liderança.

Algumas dicas para as empreendedoras brasileiras: não tenha medo de empreender, muito menos pense que o mundo do e-commerce não é para as mulheres. Não desista da sua ideia, pois ela um dia poderá ajudar muitas pessoas.

 

Fonte: https://www.shopify.com.br/blog/empreendedorismo-feminino