Ser transexual ou travesti em território brasileiro é sobreviver em meio à incerteza de conseguir voltar para casa. O país é considerado o que mais mata transexuais no mundo. Somente em 2020, 175 pessoas trans foram assassinadas em solo brasileiro, segundo o mesmo dossiê.
Na contramão do preconceito e da discriminação, a informação é a maior arma dessa população invisibilizada pelos demais. Na última semana, o tema ganhou maior atenção depois que a atriz e cantora Lina Pereira entrou para o time do reality show Big Brother Brasil.
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Transexual, Linn da Quebrada, como também é conhecida, enfrentou resistência de alguns participantes do programa em chamá-la pelo pronome correto. Com um “ela” literalmente tatuado na testa, algumas pessoas ainda ficam em dúvida sobre como tratar uma pessoa que não se identifica com seu gênero de nascimento.
O Metrópoles, então, separou algumas dicas e orientações para não restar mais dúvidas.
Sexo biológico e expressão de gênero
Antes de mais nada, é preciso entender que os órgãos genitais de uma pessoa, no senso comum, são referências para caracterizá-la como menino ou menina. Denominado sexo biológico, possui três variações: feminino, masculino e intersexo. A intersexualidade diz respeito à pessoa que não nasceu com uma única anatomia reprodutiva.
O sexo biológico, no entanto, não quer dizer que a pessoa se identifique com a forma como ela nasceu. “A identidade de gênero é a forma pela qual eu expresso o gênero com o qual eu me identifico”, explica Beth Fernandes, transexual que preside o Fórum de Transexuais de Goiás e do Conselho Municipal da Mulher.
Isso significa que uma pessoa nascida mulher pode não se identificar como tal e não assumir essa identidade. É aí que entram as variações e as pessoas transgênero.
Orientação sexual
O mesmo padrão citado acima também foi determinante, por muitos anos, quanto à orientação sexual das pessoas. Ou seja, se uma pessoa nasceu como homem, automaticamente ela deveria se interessar por mulheres.
A orientação sexual, no entanto, nada tem a ver com a forma que a pessoa nasceu, ela diz respeito ao interesse sexual/romântico por outras pessoas.
Nesse sentido, esse interesse pode ser divido da seguinte forma:
Heteroafetivo/heterossexual: quando manifesta interesse por pessoas do gênero oposto ao seu;
Homoafetivo/homossexual: interesse por pessoas do mesmo gênero;
Bissexual: interesse por ambos os gêneros;
Pansexual: quando não há distinção e pode existir interesse pelos dois gêneros e pessoas não binárias;
Assexual: aqueles que não desenvolvem interesse sexual por nenhum gênero.
Cisgênero
O conceito de cisgênero diz respeito à expressão de gênero de um pessoa – explicado no primeiro tópico acima. Essa denominação é dada àquelas pessoas que se identificam com seu sexo biológico. Ou seja, uma pessoa que nasceu com órgãos e sistema reprodutor feminino e assume a forma de mulher, é uma pessoa cisgênero.
Na contramão desse termo e dessa identificação, existem as pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e não assumem tal forma. Essas pessoas formam os grupos de transgênero.
Transexual e travesti
Para Jovanna Baby, fundadora do Movimento Organizado de Travestis e Transexuais no Brasil, essa distinção entre travestis e transexuais não deve mais ser levada em consideração. “Essa diferença é política e a palavra travesti é marginalizada na sociedade brasileira”, relata.
“Trans são todas as pessoas que transitam entre os gêneros e toda travesti é uma pessoa trans”, esclarece Jovanna.
Nesse caso, pessoas transexuais são aquelas que não se identificam com seu sexo biológico e passam pela mudança de identidade. Os corpos mudam, elas passam a vestir roupas do sexo que se identificam, adotam um nome que combine com essa identificação e iniciam uma forma de deixar no passado aquele corpo que não cabe mais a elas.
É o caso da participante do BBB22, Linn da Quebrada. Apesar de ter nascido com sexo biológico masculino, a atriz não se identifica com tal gênero, mas sim como uma mulher. Uma série de fatores faz uma pessoa ser transexual: o nome que ela adota, o pronome com o qual quer ser tratada, as roupas que usa, a mudança corporal com hormônios, implantação do silicone ou a retirada do seio.
No caso oposto de Linn, temos o ator hollywoodiano Elliot Page. Ele usou as redes sociais para afirmar que não se identificava com seu sexo biológico feminino e estava passando pela mudança corpórea e adotaria, a partir daquele momento, o pronome ele. Elliot ainda afirmou ter realizado uma mastectomia, procedimento cirúrgico que retira os seios.
Ainda vale ressaltar que a identidade de gênero nada tem a ver com a orientação sexual. Ou seja, um homem transgênero pode ser bissexual e sentir atração por homens e mulheres. Ele pode ser heterossexual e demostrar interesse por mulheres ou pode ser ainda pansexual e ter interesse por homens, mulheres e outras pessoas transgênero.
Drag queen
Drag é o nome dado a homens cisgêneros que gostam de se vestir como mulher. “Ser drag queen é uma expressão cultural. É uma performance temporária”, explica Beth Fernandes.
“Ele vai se vestir, colocar seios, cílios e salto alto mas, acabou sua performance, ele vai se descaracterizar e voltar para casa como um homem”, esclarece a especialista.
Ele ou ela?
Para as duas experts e pesquisadoras de identidade de gênero entrevistadas pelo Metrópoles, é preciso ser cauteloso e, de acordo com elas, “mostrar o mínimo de respeito para com a pessoa que você está conversando”. Para isso, elas ressaltam a importância de perguntar como a pessoa quer ser tratada.
“Se não há o mínimo de conhecimento sobre os conceitos do mundo LGBTQIA+, pergunte como a pessoa quer ser tratada. Esse estigma de relacionar a pessoa à genitália é carregado de preconceito e nós somos muito mais do que isso. Merecemos ser tratadas com respeito e educação”, pondera.
O que não falar e cortar de vez do seu vocabulário
Veado: o nome animalesco é usado, muitas vezes, para se direcionar a homens gays e, mais uma vez, é um termo preconceituoso e pejorativo. “Não se deve chamar ninguém assim. Nós não somos animais”, ressalta Jovanna, uma das selecionadas no Edital Caminhos, da Fundação Tide Setubal.
Traveco/Traveca: outro termo que merece o veto é de “traveco”. De acordo com Jovanna, ele foi amplamente usado na década de 1970 para noticiar a morte de pessoas transexuais no Brasil. “Não é legal e conheço casos muito próximos de pessoas que se suicidaram por serem constantemente chamadas desse jeito.”