Uma pesquisa do Los Angeles Biomedical Research Institute, no Harbor-UCLA Medical Center, nos Estados Unidos, publicado no “Journal of the National Cancer Institute” no final de março deste ano chegou à conclusão de que existe relação entre o câncer de mama e a reposição hormonal na menopausa, principalmente no tratamento com a combinação estrogênio/progestina.
Foram acompanhadas 42 mil mulheres na menopausa, com idade entre 50 e 70, durante 11 anos em média. Dessas, cerca de 25 mil não faziam a terapia hormonal e mais de 16 mil faziam a terapia hormonal combinada, ou seja tomavam estrogênio e progestina. Ao final da análise, mais de 2.200 mulheres sofreram com câncer de mama. O número maior de diagnósticos foi constatado entre aquelas que fizeram terapia combinada.
Dr. Fabricio Brenelli, mastologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e integrante do conselho-científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, lembra que a terapia de reposição hormonal, ou terapia hormonal (TH) na menopausa está associada a um aumento no risco relativo de câncer de mama, quando usada por mais de cinco anos, e principalmente, por mais de uma década.
“Este aumento chega a ser de quatro a oito vezes em relação à mulher que não usa TH”, diz o médico. “Entretanto, entre as que fizeram terapia hormonal apenas com estrogênio por cinco anos o aumento do risco não costuma ser significativo. E quando o tratamento dura mais de dez anos, o aumento do risco costuma ser pequeno.”
Entretanto, Dr. Fabrício esclarece que este risco é relativo e não absoluto. Ou seja, a maioria das mulheres que fazem TH por mais de cinco ou dez anos não irão desenvolver câncer de mama durante a vida. Isso porque, nessas pesquisas, existem outros fatores não relacionados à terapia hormonal que podem levar ao diagnóstico. Assim, é impossível dizer que a reposição hormonal foi o que causou o câncer numa mulher que faz uso desta terapia. Ela poderia tranquilamente desenvolver o câncer sem uso da mesma.
Mas, por que a reposição hormonal pode aumentar o risco de câncer de mama? O mastologista explica que isso pode acontecer devido à ação proliferativa dos hormônios femininos nas células mamárias. Estes hormônios agem diretamente na célula mamária e promovem a multiplicação das mesmas. Quanto mais células se multiplicam, maior a chance de uma célula se transformar em tumor.
“Como na menopausa os ovários param de produzir os hormônios femininos, este processo na mama se torna lento. Quando se faz a reposição hormonal ele é novamente ativado, e por quanto mais tempo utilizado, maior a chance de uma transformação malígna. Mas o uso da TH por cinco anos é muito seguro”, diz.
Por conta da relação entre a reposição hormonal e o câncer de mama, há ginecologistas que chegam a pedir que a paciente assine um termo antes de iniciar o tratamento. Mas a Dra. Daniela Gouveia, ginecologista e obstetra da Clínica VIVID, explica que, no caso de reposição hormonal, os termos não são obrigatórios, pois os casos de câncer de mama são multifatoriais e a reposição hormonal é apenas um dos fatores que podem aumentar as chances em mulheres com predisposição.
“Existem várias medicações que exigem termo de consentimento informado, como Roacutan (para tratamento de acnes), Sibutramina (para emagrecimento) etc. Estes termos são obrigatórios nestes casos, pois podem realmente ocasionar problemas sérios nos usuários.”, esclarece. Sendo assim, o termo explica o uso da medicação, seus riscos e benefícios.
Os médicos que exigem o termo apenas darão as medicações para pacientes que assinarem. “Mas no Brasil estas medicações hormonais não tem obrigatoriedade de receita e qualquer um pode comprar na farmácia. Portanto, nestes casos o termo seria apenas explicativo e serviria uma defesa do médico em casos de câncer posterior ao uso destes medicamentos, como uma prova de que todas as orientações foram dadas”, diz Dra. Daniela. “Não existem medicações isentas de riscos e efeitos colaterais, por isso, nestes casos, não há necessidade de se fazer o termo de consentimento informado.”
Quando a reposição hormonal é indicada?
A terapia de reposição hormonal é importante para manter a saúde e o bem-estar e ainda prevenir doenças em muitas mulheres. Ela é indicada quando a paciente apresenta sintomas importantes do climatério, como fogacho (ondas de calor), irritabilidade extrema, perda de libido, ressecamento vaginal, osteoporose, estado depressivo associado à menopausa, baixa densidade óssea em progressão entre outros fatores.
O tempo que o tratamento será empregado é que deve ser discutido com o médico. Em pacientes com alto risco pessoal ou familiar para câncer de mama precisam ser avaliadas separadamente para que o tratamento seja personalizado. Não existe uma idade limite para início. O ideal é que o tratamento se inicie com os sintomas do climatério.
“Qualquer mulher pode desenvolver câncer de mama e não existe medida que a proteja totalmente da doença. O que se sabe é que algumas mudanças de estilo de vida podem reduzir de maneira importante o risco de câncer de mama. São elas: não ingerir bebidas alcoólicas rotineiramente, evitar obesidade e sobrepeso, fazer atividade física periodicamente e, o mais importante, ser feliz”, orienta Dr. Fabrício.
Vila Mulher | Juliana Falcão